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Quinta Souto da Sé

A Quinta do Souto da Sé é uma propriedade que se encontra na posse da família há muito tempo. Foram membros laicos e seculares da ordem de S.Bento, que ao receber doações régias, desenvolveram a cultura da vinha e rentabilizaram outras, nesta zona da Serra de Sº Mamede.

Estabeleceram-se onde agora é a zona de S.Bento, desbravaram terras, fizeram casas, dependências agrícolas e uma capela que ainda existe e é nossa, muito bem conservada e onde um tio-avô dizia missa até meados do século passado. E tenho na Adega, um marco desses tempos, encontrado aqui, com a cruz de Aviz gravada. 

Mas os vestígios de ocupação humana remontam ao neolítico, já se encontraram aqui sepulturas dessa época que, segundo um historiador amigo do meu Pai, julgavam ser um local místico no que é hoje a minha encosta.

Continuando pela História, sucederam-se as invasões filipinas, depois as francesas, logo a seguir os ingleses. Em todas estas invasões, estiveram por cá altas patentes acompanhadas por fortes contingentes militares, que nos saquearam Portanto, é possível imaginar o que estará guardado debaixo de terra. Existem muitas lendas e narrativas. A título de exemplo, no início do século XX, o meu bisavô despistou-se no calhambeque e rebentou um pedaço de um mourão que suportava o portão da entrada de S.Bento. E lá dentro estavam muitas moedas de ouro de outros tempos. Isto continua porque há muitas mais para contar e mesmo esta vai a meio..   

Replantei a vinha em 1998 e as coisas correram bem, embora o correr bem resulte de um esforço e trabalho que, sinceramente não sei por mais quanto tempo conseguirei aguentar, embora goste muito daquilo que faço. Mesmo ajudado pelos meus filhos, é dose grande, um já saiu de casa e o outro está quase, portanto a dose aumentará. Estou a ficar cansado, gostaria de mudar o paradigma e julgo que o vinho merece. Ou seja, reduzir a quantidade a vinificar, alocando-a sobretudo ao Quinta do Souto da Sé DOC tentando alargar um patamar de consumidor mais alto que não se importa de pagar mais, na premissa da qualidade do que bebe, entrando em nichos de mercado, até porque não  tenho nem pretendo escala para mais.

  

A vinha está implantada numa encosta a uma cota de 700 metros, orientada a nascente e a norte, o que se já é bom, com as alterações do clima ainda será melhor.. É a vinha de maior altitude a sul do Tejo registada em região demarcada; inserida num microclima fantástico, muito frio e chuvoso no Inverno e um Verão mais ameno do que no resto do Alentejo. Mas o sol é alentejano. Resumindo, aqui na Serra, os vinhos mostram a potência do sul, misturada com a acidez natural dos do Douro ou do Dão. E com o aquecimento e a diminuição da pluviosidade, as vinhas e os vinhos da Serra de S. Mamede, serão os últimos moicanos no Alentejo.

 Aragonês, Castelão e Alicante Boushet, plantadas em talhões separados, com enrelvamento na entrelinha e controlo de vegetação por triturador, hoje uma prática comum, à época foi a primeira no distrito.  

E como a Adega está na vinha ou vice-versa, laborando com pequenas quantidades de uva, esta entra nos lagares logo a seguir à apanha. Ou seja, não há tempos de espera que originam fermentações descontroladas.  E só se vindima de manhã.

O processo de vinificação é milenar: fermentação em lagar com remontagens manuais, pondo a natureza a trabalhar sob supervisão, respeitando a uva, o local e a história. O vinho não é filtrado, até porque as invernias permitem a decantação do mesmo pelo frio. Também não são usados quaisquer aditivos em todo o processo, exceptuando obviamente o dióxido de enxofre, os famosos sulfitos. Não é difícil fazer bom vinho aqui, basta não inventar, até porque os requisitos edafo-climáticos estão cá.

E o engarrafamento é feito por gravidade, sem magoar o vinho, com uma enchedora manual. O arrolhamento também é manual. Idem para a rotulagem. É portanto artesanato, coisas feitas como os antigos faziam, a diferença é que agora sabemos mais porquês, embora não todos, que o vinho é um grande mistério. Também temos mais ajudas. Porque podemos e devemos recorrer ao conhecimento científico e à tecnologia, sem desvirtuar procedimentos. Exemplificando, o arrolhamento é manual e as rolhas são feitas à medida, com base numa leitura a laser do perfil da garrafa.

O facto da rotulagem ser manual, permite elaborar e colocar rótulos personalizados, desde que se cumpra a legislação.